quinta-feira, 3 de março de 2011

Balonices

[Repórteres das pautas: Mayara Bastos e Aline Rodrigues – Edições de 02 e 03-02-2011 – Jornal O Dia]

Lembro bem de meados dos anos 90, quando o velho “Balão da Onix” fazia seus passeios pelo mundo.  Em uma dessas andanças, passou por Piripiri, minha terra natal. Sempre fui um aficcionado incondicional de Júlio Verne, e como muitos sonhei conhecer o céu de perto dentro de um balão. No meio de toda a folia e mais uma centena de crianças, com meus singelos 10, 12 anos quase voei. Como o garotinho que perdeu o Ticket Dourado Wonka, esperei...

Fevereiro de 2011. Minha primeira semana na Redação. O Jornal O Dia completa 60 anos e em uma das atividades comemorativas, leitores foram sorteados para um passeio... em um balão!

Seguimos pra locação e chegamos em tempo de acompanhar todo o processo, desde o desenrolar do balão e montagem. É difícil acreditar que quando lá no alto vendo o mundo encolher aos seus pés, sua vida depende de um tecido tão fino.

“Balão O Dia 60 anos” sendo desenrolado

O processo não é tão simples quanto parece. Após desenrolado e estirado, um jato de ar é lançado por uma ventoinha, inflando o balão, preparando para o segundo passo.

ventoinha inflando o “Balão O Dia 60 anos”


ventoinha inflando o “Balão O Dia 60 anos”


Quando é criada uma área suficiente dentro do balão, o segundo passo é lançar o ar quente, que permite o balão voar.

Membro do Staff incomodado com o ar quente do "queimador"


"Ultimos preparativos"


"Ultimos preparativos"

A novidade colorida lutando para tomar fôlego e ganhar os céus, atraiu a curiosidade dos teresinenses, chegando a causar acidentes nas vias próximas ao local.

Mas os primeiros meses do ano em Teresina são conhecidos pela instabilidade do clima, que salta de calor extremo à chuva torrencial em poucos minutos.

Pressão atmosférica, umidade do ar, chuva. Todas essas variações são determinantes para um vôo seguro. Nesse dia as condições não estavam favoráveis. Por três vezes a equipe encheu o balão, chegando a levantar um pequeno vôo.

Por razões de segurança o vôo foi cancelado. Tão logo o piloto decidiu pelo adiamento, o equipamento foi desmontado e em cerca de 15 minutos uma forte chuva tomou o céu da capital. Voltamos para a redação frustrados, molhados e presos em um longo engarrafamento da hora do Rush agravado pelo temporal.

Toda a expectativa criada por este fotógrafo transformou-se rapidamente em mau-humor. Escolher as fotos pra compor a pauta sabendo que os tão esperados cliques do vôo não fechariam a sequência resultou em um terrível sentimento de missão não-cumprida.

Segundo dia. Uma nova tentativa. Uma nova expectativa. Um clima de desconfiança entre fotógrafo e câmera começa a sumir quando da ponte Juscelino Kubischek avisto o balão em seu primeiro vôo. Chegamos à locação e com a confirmação do piloto aquele sentimento sumiu por inteiro: Vamos voar!


leitores aguardando para desfrutar do seu passeio

Os primeiros leitores a voar foram um advogado e seu filho. Confesso que mesmo através dos 300mm da objetiva, os olhinhos assustados do garoto me fizeram lembrar aquele dia anos atrás quando “quase” fui eu ali. Era eu lá, agora.


Paulino Brandim e seu filho Daniel. Primeiros leitores a subir no “Balão O Dia 60 anos”


Equipe da Tv O Dia

Minha vez de subir. Uma ligeira agitação me consome. Não me sinto à vontade em alturas, mas quando fotografamos o medo dá lugar à uma coragem que beira a irresponsabilidade. É como se a câmera tivesse o poder de suprir fome, sede e criar uma aura invisível de segurança e conforto mesmo quando estamos pendurados em postes, árvores, equilibrados sobre áreas que nunca conseguiríamos permanecer. Não sem uma câmera na mão. Nem mesmo o potente lança-chamas (ou queimador, no termo correto) que mantinham o balão no ar, fazia o rosto arder.

Equipe do O Dia
leitora assiste ao vôo. Perspectiva à bordo do balão

Piloto do “Balão O Dia 60 anos”


“Balão O Dia 60 anos” publicada na capa do caderno Dia-a-Dia da edição de 02/02/2011


“Balão O Dia 60 anos” publicada na capa da edição de 03/02/2011


O passeio não durou mais de 15 minutos. Por segurança, o balão não foi desatrelado das cordas que o prendiam ao solo, tornando o passeio um tanto limitado. Aquele sonho que citei no início, de viajar de balão tal qual o personagem Phileas Fogg de Júlio Verne permanece, e quem sabe em uma dessas andanças descubro o céu e batizo minha câmera de  Passepartout.


Matérias originais publicadas em 02 e 03 de fevereiro de 2011, respectivamente.



Até o próximo Clique!

terça-feira, 1 de março de 2011

Invasões Bárbaras

[Repórter da pauta: Mayara Bastos – Edição 28-01-2011 – Jornal O Dia]

Quando disputei a seletiva para substituir meu amigo Jairo Moura na vaga de fotógrafo do jornal, concorri com varias pessoas talentosas. Testados na rotina da redação, fomos dois sobreviventes para a grande final.  
Partimos cedo para o que seria o “desempate”, ambos cobrindo a mesma pauta: a situação das 35 mil famílias que moram irregularmente em Teresina.
Armado com uma Nikon D300, as lentes sigma 18-50mm e 70-300mm, seguimos para a primeira ocupação, Vila Rosa Luxemburgo na zona norte da capital.  A área ocupada pertence ao INSS e por não possuírem saneamento básico oficial, os moradores apelam para as ligações clandestinas e perfuração de poços para obter o mínimo de condições de permanência no local.
Lá encontrei um dos moradores que brincava com o filho enquanto fazia obras em seu casebre, levando e trazendo o garoto no carrinho de mão à cada viagem.




pai brinca com o filho enquanto trabalha
 

Não resisti ao olhar do garoto, ainda guardando a inocência infantil quando qualquer coisa é diversão.



O olhar do inocente






A família do carpinteiro Fábio, que encontrou nas sobras de material o necessário pra construir sua casa (publicada no Jornal O Dia)




De lá seguimos para a prefeitura onde o secretário executivo da Secretaria de Planejamento, Carlos Affonso, nos deu uma verdadeira aula sobre a situação dos moradores e a crise da habitação em Teresina, mas foi na segunda locação onde pudemos ver mais de perto a realidade dura dos moradores.


Vila São Francisco, extremo sul da capital


Segundo o morador Juliano Lucena, no início da ocupação, a região era dominada por aproveitadores e marginais, que buscando fugir do olho da lei encontraram na região o esquecimento necessário.



Vila São Francisco


Enquanto a repórter entrevistava um dos moradores, os gritos de uma vizinha nos chamou a atenção. Ao chegar no local, encontramos um senhor agonizando no chão, nu, molhado e vomitando sangue. Sofrendo de alcoolismo, diabetes e pressão alta, passava por uma nova crise, após ter sido enviado para casa pelo médico por "nada mais poder fazer". 


Homem agoniza no fundo de sua casa


Depois de uma nova batalha, o SAMU foi enfim convencido a atender o chamado, visto que por a região não ser oficialmente registrada é de difícil acesso.


Ambulância do SAMU ziguezagueia entre as estreitas ruas de terra


Após receber os primeiros cuidados, o homem foi reconduzido ao hospital. O que se seguiu daí é incerto...


Médicos do SAMU prestando os primeiros socorros



Paciente sendo conduzido à ambulância


No meio do alvoroço, algumas crianças foram atraidas, movidas pela curiosidade. Não resisti e fiz um último clique, que rendeu a primeira página.


Crianças da Vila São Francisco. Foto da Capa.


A situação dos locais que visitamos é apenas um reflexo do que ocorre em todo o estado. Quando no conforto do nosso lar, com a brisa suave do ar-condicionado e diante de nossa TV 42” muitas vezes não temos idéia de como a “nossa nada mole vida” pode ser um paraíso quando comparada à outras.

A matéria na íntegra pode ser vista na edição eletrônica do Jornal O Dia

Até o próximo clique!


Quem, onde, quando, como, porque...

Alguns anos atrás, quando ainda era acadêmico de Direito, resolvi procurar uma vacina contra o tédio. Como uma brincadeira de fim de semana, me surgiu a fotografia. A farra ultrapassou o fim de semana, ganhou feriados, dias úteis, até que resolvi trocar de vez a gravata pela câmera e os vademecuns por bloquinhos de nota.

Hoje, com 7 anos de fotografia, jornalista em formação, corri ate onde os pés levaram, transformando momentos ora em película, ora em pixels, e o único arrependimento que trago é não ter feito tudo isso antes.

Resolvi criar esse blog por duas razões: manter vivas na minha memória algumas pautas, e partilhar com vocês um pouco da minha experiência que se inicia na redação de um jornal impresso.

Não tenho pretensões de escrever ou re-escrever as matérias, muito pelo contrário, cada repórter que acompanhei já fez isso e perfeitamente. Minha intenção é simplesmente dar uma outra ótica, breve e pelo enfoque fotográfico, partilhando inclusive as fotos não publicadas.   

Desde meu início na fotografia, encontrei em mestres como Cartier-Bresson, Robert Capa, Evandro Teixeira , Sebastião Salgado e muitos outros, que fizeram (e alguns ainda fazem) o caminho mais belo da arte de desenhar com a luz.

Postarei frequentemente pautas que cobri para o Jornal O Dia, veículo com 60 anos de liderança em credibilidade no Piauí, cuja edição eletrônica pode ser vista Aqui

Espero, e creio que será, uma experiência mutuamente interessante.

Conheçam meus portifólios: Carbonmade e Flickr e siga-me no twitter


Até o próximo clique!