[Repórteres das pautas: Mayara Bastos e Aline Rodrigues – Edições de 02 e 03-02-2011 – Jornal O Dia]
Lembro bem de meados dos anos 90, quando o velho “Balão da Onix” fazia seus passeios pelo mundo. Em uma dessas andanças, passou por Piripiri, minha terra natal. Sempre fui um aficcionado incondicional de Júlio Verne, e como muitos sonhei conhecer o céu de perto dentro de um balão. No meio de toda a folia e mais uma centena de crianças, com meus singelos 10, 12 anos quase voei. Como o garotinho que perdeu o Ticket Dourado Wonka, esperei...
Fevereiro de 2011. Minha primeira semana na Redação. O Jornal O Dia completa 60 anos e em uma das atividades comemorativas, leitores foram sorteados para um passeio... em um balão!
Seguimos pra locação e chegamos em tempo de acompanhar todo o processo, desde o desenrolar do balão e montagem. É difícil acreditar que quando lá no alto vendo o mundo encolher aos seus pés, sua vida depende de um tecido tão fino.
“Balão O Dia 60 anos” sendo desenrolado |
O processo não é tão simples quanto parece. Após desenrolado e estirado, um jato de ar é lançado por uma ventoinha, inflando o balão, preparando para o segundo passo.
ventoinha inflando o “Balão O Dia 60 anos” |
ventoinha inflando o “Balão O Dia 60 anos” |
Quando é criada uma área suficiente dentro do balão, o segundo passo é lançar o ar quente, que permite o balão voar.
Membro do Staff incomodado com o ar quente do "queimador" |
"Ultimos preparativos" |
"Ultimos preparativos" |
A novidade colorida lutando para tomar fôlego e ganhar os céus, atraiu a curiosidade dos teresinenses, chegando a causar acidentes nas vias próximas ao local.
Mas os primeiros meses do ano em Teresina são conhecidos pela instabilidade do clima, que salta de calor extremo à chuva torrencial em poucos minutos.
Pressão atmosférica, umidade do ar, chuva. Todas essas variações são determinantes para um vôo seguro. Nesse dia as condições não estavam favoráveis. Por três vezes a equipe encheu o balão, chegando a levantar um pequeno vôo.
Por razões de segurança o vôo foi cancelado. Tão logo o piloto decidiu pelo adiamento, o equipamento foi desmontado e em cerca de 15 minutos uma forte chuva tomou o céu da capital. Voltamos para a redação frustrados, molhados e presos em um longo engarrafamento da hora do Rush agravado pelo temporal.
Toda a expectativa criada por este fotógrafo transformou-se rapidamente em mau-humor. Escolher as fotos pra compor a pauta sabendo que os tão esperados cliques do vôo não fechariam a sequência resultou em um terrível sentimento de missão não-cumprida.
Segundo dia. Uma nova tentativa. Uma nova expectativa. Um clima de desconfiança entre fotógrafo e câmera começa a sumir quando da ponte Juscelino Kubischek avisto o balão em seu primeiro vôo. Chegamos à locação e com a confirmação do piloto aquele sentimento sumiu por inteiro: Vamos voar!
leitores aguardando para desfrutar do seu passeio |
Os primeiros leitores a voar foram um advogado e seu filho. Confesso que mesmo através dos 300mm da objetiva, os olhinhos assustados do garoto me fizeram lembrar aquele dia anos atrás quando “quase” fui eu ali. Era eu lá, agora.
Paulino Brandim e seu filho Daniel. Primeiros leitores a subir no “Balão O Dia 60 anos” |
Equipe da Tv O Dia |
Minha vez de subir. Uma ligeira agitação me consome. Não me sinto à vontade em alturas, mas quando fotografamos o medo dá lugar à uma coragem que beira a irresponsabilidade. É como se a câmera tivesse o poder de suprir fome, sede e criar uma aura invisível de segurança e conforto mesmo quando estamos pendurados em postes, árvores, equilibrados sobre áreas que nunca conseguiríamos permanecer. Não sem uma câmera na mão. Nem mesmo o potente lança-chamas (ou queimador, no termo correto) que mantinham o balão no ar, fazia o rosto arder.
Equipe do O Dia |
leitora assiste ao vôo. Perspectiva à bordo do balão |
Piloto do “Balão O Dia 60 anos” |
“Balão O Dia 60 anos” publicada na capa do caderno Dia-a-Dia da edição de 02/02/2011 |
“Balão O Dia 60 anos” publicada na capa da edição de 03/02/2011 |
O passeio não durou mais de 15 minutos. Por segurança, o balão não foi desatrelado das cordas que o prendiam ao solo, tornando o passeio um tanto limitado. Aquele sonho que citei no início, de viajar de balão tal qual o personagem Phileas Fogg de Júlio Verne permanece, e quem sabe em uma dessas andanças descubro o céu e batizo minha câmera de Passepartout.
Até o próximo Clique!